quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Presente para os olhos, afago para a alma


POESIA NO METRÔ: PAREDES DE ESTAÇÕES E TRENS EXIBEM POEMAS CONSAGRADOS


Com um público de 420 mil pessoas/dia, estações e trens da Linha 2- Verde contam com 42 poemas expostos em grandes adesivos

O projeto “Poesia no Metrô” estreou nesta terça-feira (20/10). Trata-se de um dos maiores programas de leitura de poemas em língua portuguesa já realizado. Os usuários que passaram pela Estação Vila Madalena (Linha 2- Verde) no final da manhã puderam conferir o sarau que marcou o início do projeto. No evento, poemas de grandes autores foram declamados por poetas como Marcelo Tápia (do grupo de Haroldo de Campos), Micheliny Verunshk, Cláudio Willer, Frederico Barbosa e Carlos Figueiredo, idealizador do projeto.

“Precisamos de transporte, assim como precisamos de respeito. Melhorar a vida das pessoas é uma tarefa do coração. É preciso se importar, ver que as pessoas precisam de trens, estações e também de poesia”, afirmou José Luiz Portella, secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos. Também estiveram presentes no evento os presidentes do Metrô, José Jorge Fagalli e da EMTU/SP – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, Julio de Freitas.

Projeto

Por meio do “Poesia no Metrô”, a Estação Vila Madalena (Linha 2-Verde) passa a exibir alguns dos poemas mais representativos de nossa língua. Entre os 21 autores selecionados estão Camões, Alphonsus de Guimarães, Gonçalves Dias, Augusto dos Anjos, Castro Alves, Olavo Bilac, Fernando Pessoa, Florbela Espanca e Carlos Drummond de Andrade.

Nessa primeira etapa foram selecionados 42 poemas, que ficarão expostos durante três meses, por meio de adesivos, em tamanhos grandes, para serem lidos mesmo a distância. No total, estarão em 34 pontos das estações da Linha 2-Verde, além do interior dos seis novos trens. Ao longo da semana, outras sete estações e os trens da linha também receberão os textos.

O “Poesia no Metrô” busca utilizar espaços públicos para difundir a arte e provocar nos usuários o interesse pela leitura. A expectativa é que a segunda etapa comece em janeiro de 2010, ocupando espaços fixos usados para exposições de poemas.


Amar - Carlos Drummond de Andrade

Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



fonte: http://www.metro.sp.gov.br/aplicacoes/news/tenoticiasview.asp?id=65651CAFD0&categoria=6561F2&idioma=PO